Bolsões de pobreza puncionando a paisagem urbana indiscriminadamente, sem restrições a verticalidade ou horizontalidade da moradia. Famílias ocupando ilegalmente lugares para transforma-los em algo que chamariam de meu chão, paredes frágeis adaptadas às limitações geométricas, dissuadindo embora precariamente, os perigos e tribulações de vidas pautadas pela exclusão social. Tornar-se-iam parte de uma massa urbana diversificada pelo nível de empobrecimento ou status na comunidade. O detalhe mais importante de uma ocupação é o local, local, local, qualidade de vida pode esperar.
Na base da pirâmide da miséria das ocupações ilegais, moradores temporários escapando do desespero das calçadas e da solidão das ruas escuras. Em seguida vem os permanentes, posseiros feitos prisioneiros da armadilha da pobreza que os havia capturado. Um terceiro grupo, menos pobre e mais letal, seriam os “artistas”, aqueles que existem e prosperam explorando a vulnerabilidade dos seus vizinhos. Drogas, agiotagem, exploração sexual suas mercadorias favoritas. Mestres do status quo, quanto mais miséria melhor, cafetões da pobreza defendendo seus próprios interesses.
Ocupações ilegais desprotegidas e anônimas, seus perigos e o medo garantindo sua incomoda permanência em lugares simbólicos do descaso do poder público, com o meio ambiente e o patrimônio público. Outras são manchas negras no meio de florestas de vidro, concreto e outros requintes de ostentação urbana, pobreza invisível contra silhuetas dubaiescas, excluídos das amenidades e serviços públicos estendidos aos mais privilegiados. Sons agonizantes das noites de pobreza, abafados pela inconfortável imersão no território dos poderosos. Desabamentos, criminalidade ou outros riscos são registradas e encaminhadas às autoridades competentes, sem nunca encontrar soluções duradouras para os problemas de falta de moradia e mitigação da pobreza urbana.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores