Adeus irmão

Covardes morrem várias vezes antes da sua morte, o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez. Frase Shakespeariana esboçando a grandeza de uma pessoa na vida e na morte. Descansando na paz eterna diante de nós, nosso irmão Popó, um homem corajoso. Reunidos na tristeza pontiaguda do semicírculo da despedida. Olhos fixados no corpo inerte descansando no aconchego de um colchão de flores de fragrância tímida. Acalentado pelo som do choro suprimido por lenços molhados de sofrimento e ternura. Seguimos seu perfil pálido, olhos fechados, curva do nariz nos remeteu a José Eduardo, nosso avô materno. Sorriso espremido no canto da boca, visão dos momentos felizes das nossas vidas.

Éramos crianças quando conhecemos nossos novos heróis, juntaram-se conosco nos anos cinquenta. Castilho, Píndaro e Pinheiro, Jair, Edson, Bigode, Telê, Orlando, Carlyle, Didi e Quincas, os homens dos dias de glória da bandeira tricolor drapeada sobre a parte inferior do ataúde. Sonhávamos com uma carreira futebolística nos gramados distantes. Filme argentino sobre dois jogadores e irmãos uruguaios, os Carrascos, criou o homônimo brasileiro da dupla: os Irmãos Lucena. Popó preferia os chutes folha seca de Didi; eu, a dureza dos carrinhos de Bigode. Partimos do futebol, o voleibol e o mundo estavam a nossa espera.

Posse na Câmara Municipal, Popó o parlamentar. Figura altiva, enfeitando a mesa com sua elegância, convicções expressadas em discursos precisos na sua espontaneidade. Logo no primeiro mandato, mostrou-se adepto às regras da casa transformando-se em um profundo conhecedor das idiossincrasias e procedimentos legislativos. Convivendo com companheiros de bancada e da oposição, limando arestas partidárias, servindo aos seus constituintes. Ira pessoal ou revanchismo não eram parte do seu repertório politico. Um verdadeiro democrata.

Vieram as tribulações, injustiças e constantes problemas de saúde. Vivendo, lutando, ganhando ou perdendo, nunca morrendo. Enfrentava o melhor ou o pior da vida com o sorriso de um atleta no momento de um ponto, um saque bem dirigido. Sabia competir, um atleta que sempre acreditou no fair-play. Adversidades apareciam, muitas vezes de uma intensidade quase insuportável, ele buscava forças no casulo que abrigava sua família. Um fortaleza frágil, só na aparência. Foi assim até o fim, e assim será.

Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores