A sombra do cajueiro

Duas mulheres, cinquenta reais e a sombra de um cajueiro. Encurraladas pelo ofegante mormaço de um lugar despido de grandes possibilidades, cotidiano castigado pela pobreza poeirenta do chão batido por caminhadas sem fim. Marcando passo à espera de um futuro melhor que nunca vinha, procurando estrelas nos pedacinhos de céu penetrando as frondas oscilantes da majestosa árvore, bem-vinda distração da monotonia diurna transformando-se em silencio escuro. Vozes infantis, animais domésticos, corpos suados de agricultores desapareceriam na noite, acordariam com o canto insistente do galo da madrugada. Espetáculo azul-dourando do mar distante, pano de fundo de uma vegetação verde inadequada, uma falésia ocre quebrando a linha do horizonte, alvorada do povo do assentamento rural, um lugar chamado de Sitio Tambaba.

Pequena placa na beira do asfalto, anuncio discreto da existência de um shopping rural, o marco zero da história de sucesso que veríamos a conhecer. Estrada de barro levou-nos a uma clareira assombreada por um frondoso cajueiro, cercada parcialmente por uma meia-lua de estruturas de taipa decoradas com letreiros multicoloridos, pontos de venda de produtos artesanais. Nos contariam a história de sucesso que começara há seis anos, com um pequeno empréstimo e apoio do SEBRAE.

A mulher chamava-se Nevinha da Silva, nome tão brasileiro como os doces que produzia. Era a precursora da simples ideia de transformar doces caseiros em atividade econômica, gerar emprego de familiares na cadeia de produção e venda de produtos artesanais. local frequentado diariamente por quinhentos visitantes, turistas rodoviários. mochileiros, andarilhos, campistas e aficionadas do naturismo em rota a Praia de Tambaba. Mulheres do Sitio, na sua maioria analfabetas, construíram um polo de turismo rural sustentável integrando gastronomia regional, festejos e danças populares e recursos naturais, transformando uma atividade de subsistência em instrumento na luta por oportunidades econômicas para mulheres e suas famílias.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores