Religiosas das Missionárias da Caridade nos esperavam. Vestidas tipicamente em sáris e véus brancos, as bordas azuis realçando a hegemonia puritana dos hábitos. Buscando ajuda alimentar e medicamentos para os favelados do Vale de Mathare de Nairóbi, meio milhão de pessoas vivendo em pobreza abjeta. Paisagem poluída por barracos de papelão, zinco e madeira, esgoto ao céu aberto. População vulnerável à todas formas de degradação humana, os pobres de Madre Teresa.
Conhecemos Madre Teresa em 1982, no lançamento do filme “Ghandi” em Nairóbi, Quênia. Ciente do nosso apoio ao trabalho das Missionárias de Caridade, sugeriu uma reunião para discutir as necessidades dos habitantes do Vale de Mathare.
Sentados ao redor de uma pequena mesa, tomávamos chá matinal enquanto Madre Teresa realizava seus pedidos. Quantidades substanciais de alimentos, cálculos que a religiosa fizera usando uma calculadora portátil. Explicamos as dificuldades de conseguir tamanha ajuda e organizar a distribuição em tão pouco tempo. Doadores preferiam apoiar projetos com viés desenvolvimentista, para evitar dependência. Comentou serenamente enquanto servia biscoitos para os meus dois filhos que me acompanhavam. Eles têm tantas coisas, meus pobres não têm nada… não temos tempo para elaborar projetos. Prestamos contas ao Senhor,
Adentramos em uma pequena igreja na comunidade. Ouvíamos o murmúrio de sua oração, enquanto pensávamos na enorme responsabilidade que nos incumbira. Silêncio quebrado pelo ruído de uma câmera cinematográfica e risos das crianças. Terminadas as orações, partimos para a nossa missão. Conseguimos as doações de alimentos em pouco tempo. O espirito de Madre Teresa havia superado todas as restrições e dúvidas. Conversamos mais uma vez sobre a distribuição dos alimentos no Vale de Mathare. Despediu-se sem chegar a plano especifico. Olhando na nossa direção, sorriu como se dizendo: é para o bem dos pobres, tudo vai dar certo…
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores