A revolução do perdão

A memória é o maior presente que alguém pode dar a outra pessoa, comentou Padre Leonel, ao concluir a leitura da nossa crônica sobre seu trabalho com as tribos nomádicas do Norte do Quênia. Área devastada por conflitos tribais, desastres naturais e fome. Três décadas haviam passado desde o dia em que sobrevivemos juntos a um acidente automobilístico no deserto de Chalbi;nos reencontrávamos em Bogotá. A lembrança nos remeteu às situações de guerra e miséria que havíamos testemunhado em outros lugares distantes na África e suas experiências mais recentes no seu pais natal, Colômbia. Formavam uma longa lista…

É preciso apagar os focos de rancor, ódio e vingança que cada um guarda, para termos um futuro melhor – a premissa do livro do Padre Leonel: La revolución del perdón, como também do seu trabalho na Fundación para la Reconciliación da Colômbia. O perdão no centro do universo humano. Fonte de todas as bondades, túmulo profundo das maldades. Lembrou-nos das palavras sábias do seu amigo Desmond Tutu: ¨Sem perdão, não há futuro.¨

Perdão e reconciliação, duas palavras permanentes no cotidiano do padre, desde o tempo em que nos conhecemos no Quênia. O perdão, para ele, é uma virtude que serve para quebrar a irreversibilidade do passado. Um processo da catarse, de transformação da memória e de construção de novas narrativas. Perdão não significa esquecer nem isentar os transgressores da lei. O perdão é, portanto, uma condição indispensável para a construção de uma atmosfera propícia à reconciliação sustentável e ao desenvolvimento de um povo.

A grande lição que aprendemos na Colômbia e com o Padre Leonel é que é impossível ter um povo unido quando decisões são tomadas e soluções impostas baseadas em rancor, ódio ou vingança pessoal, sem aceitar o perdão como o caminho mais curto para a reconciliação e o desenvolvimento. Esperamos que um dia nossos lideres políticos deixem de usar os ódios comuns como a base das alianças e do oportunismo pessoal que atrofiam o progresso e o desenvolvimento do nosso estado. Por que não tentamos o perdão?

Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores