Na complexa trama da história de Caiçara, emerge um cenário onde cada detalhe contribui para forjar sua identidade coletiva. Desafiar as concepções estabelecidas é o primeiro passo para compreender a complexidade das raízes que sustentam a comunidade.
Ao contrário do que se supõe, os potiguaras, não os tapuaias, foram os primeiros habitantes desta terra. Enquanto os tapuaias se estabeleciam do outro lado do Rio Curimataú, os potiguaras lançavam os alicerces de nossa história. A própria nomenclatura da região, seja como “Cupaóba” ou “Copaoba”, ecoa em nossos escritos, evocando um passado de lutas e alianças que moldaram nosso destino.
O intrigante episódio das Guerras da Cupaoba revela a dinâmica das relações entre os povos que habitavam estas terras. Os franceses, de forma inesperada, uniram-se aos potiguaras para conter as investidas dos portugueses, deixando um legado de cooperação e resistência.
A Pedra do Pão está geograficamente localizada no município de Tacima-PB, embora o portal de entrada seja em Caiçara-PB. A Festa da Pedra começou a se realizar nos primeiros anos do século XX, no dia 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Boa Morte, e existem diversas versões para a sua origem. Mas a pedra não oferece apenas o sentimento religioso e cultural, que permeia o cotidiano e as festas católicas tradicionais do município.
O Sítio Arqueológico da Pedra do Letreiro, conhecido como “Sítio Girau”, sugere sua utilização em rituais ancestrais, evidenciando a riqueza cultural desses povos. Está localizado na comunidade rural do Serrote, a aproximadamente 500 metros da fronteira com o município de Logradouro.
Caiçara é exemplo de uma batalha entre tradição e progresso. Quando a presença de almocreves atraiu novos residentes, oferecendo vantagens como proximidade do rio e preços acessíveis, os proprietários dos engenhos da Serra da Raiz se opuseram. Apesar das ameaças, lideranças locais persistiram, enfrentando obstáculos para promover o desenvolvimento.
Não podemos esquecer o marco indelével da resistência caiçarense contra os senhores de engenho da Serra da Raiz. A criação da feira em 1841 foi o grito de independência de uma comunidade determinada a forjar seu próprio destino, enfrentando as adversidades com coragem e resiliência.
Em relação aos “filhos ilustres” de Caiçara, destacam-se Walderedo Ismael de Oliveira, pioneiro na tradução das obras de Freud para o português e fundador de importantes instituições psicanalíticas brasileiras; Rafael de Carvalho, multifacetado artista e ativista cultural; Coronel José Alípio, destacado herói paraibano da Segunda Guerra Mundial; o renomado artista plástico Luiz Tananduba, junto ao maestro Joaquim Pereira, compositor do dobrado “Os Flagelados”, parte do repertório de bandas de música no Brasil e no exterior. Esses são apenas alguns dos muitos nomes que enriquecem a história e tradições do município.
Ao contemplarmos a história de Caiçara, somos lembrados da resiliência humana e da capacidade de uma comunidade unida de enfrentar desafios e construir um futuro melhor, mesmo após adversidades como o desmembramento de seu território para a criação de novos municípios. É uma narrativa de esperança, determinação e transformação.
Palmarí H. de Lucena, “Paraíba do Alto: Histórias e Imagens Aéreas”