A quem interessar possa …

Jefferson Rudy/Agência Senado
A quem interessar possa …

Demagogos, partidos fisiologistas, extremistas amalgamados em uma massa amorfa de consistência pastosa, coloração estranha e malcheirosa, se beneficiando de recursos do Erário para avançar ambições pessoais.  Manifestos e declarações eleitorais denunciando antigas alianças políticas, tornaram-se irrelevantes na conjuntura atual. Ódios disfarçados em novas embalagens para antigos interesses, cavalgando juntos na estrada perigosamente lamacenta, jóqueis do poder seguros em suas selas, sempre na expectativa de que a manada continuara a segui-los. Desdenham de tudo que seja ético ou coerente, subvertendo o processo democrático com verbas de emendas parlamentares, cargos de confiança para apadrinhados e privilégios obtidos através da nefasta corrida de revezamento pela permanência no poder. Visando o primeiro lugar não importa o preço, a revelia do sistema democrático que os elegera.

O inglês Gilbert Chesterton sintetiza fielmente o modo de fazer política no Brasil: “[…] Eles disseram que eu deveria perder meus ideais e começar a acreditar nos métodos de políticos práticos. Agora, eu não perdi meus ideais, no mínimo, a minha fé nos fundamentos é exatamente o que sempre foi. O que eu perdi foi a minha fé infantil na prática política”.  Sentimentos ecoados pela maioria de eleitores jovens brasileiros, quando perguntados se os políticos representavam o interesse da população. A percepção que os jovens têm da política e dos políticos geralmente gira em torno da corrupção, campanhas e coligações eleitorais não são capazes de evocar imagens positivas. Paradoxalmente, o voto aos dezesseis anos foi uma conquista do movimento estudantil, incorporada à Constituição de 1988.

Corrupção adquiriu características endêmicas no cenário político-partidário. Candidatos prometem acabá-la, renegando a promessa prontamente, quando chegam ao poder. Incapazes de penetrar as barreiras erguidas pelo viés corrupto dos detentores e manipuladores do poder. Grande confusão de valores mentais, associada ao oportunismo cínico e pessoal, confundindo a coisa pública com o patrimônio pessoal.  Usam o valor prático do pragmatismo econômico como critério da verdade,  criando na falsa meritocracia, vigas de sustentação da espécie de política que brota nos pântanos da imaturidade democrática.

A CPI da Covid-19 está se transformando em uma espécie de ópera-bufa, desfile de depoentes e defensores do status quo evocando assuntos sérios através de narrativas engenhosas, ensaiado tom de seriedade, falsa indignação ou incompetência na fronteira do humorístico. Dicção e a fluência dos seus pronunciamento não tendem a ser “belas”, porém evocativas e parte integrante do millieu ensaboado por onde deslizam. Depoentes Bolsonaristas falam como se fizessem uma crônica de uma realidade paralela, ou se vivessem na dimensão da fantasia patológica, todos bufões desorientados pela verdade. Palhaços instalados em um circo, picadeiros construídos sobre os corpos e a tristeza de familiares de mais de quinhentos mil brasileiros.  

Palmarí H. de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores

Comentários

  • Mirtala disse:

    Falsa meritocracia.La corrupcion enraisada hasta los tuetanos..Muy lanentable

  • watteauferreirarodrigues@gmail.com disse:

    Gostei bastante da essência do texto. Contudo pontuaria dizendo: 1) sim, os políticos mancham a política; 2) não são ETs que escolhem nossos políticos, pasmem, somos nós e portanto temos nossa parcela; 3) nosso país tornou-se urbano e a maior bancada é ruralista, do agro negócio. Que contravenção… 4) a má notícia é que temos a política e a boa notícia é que a saída é política. Abraço.

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