A poção tóxica da intolerância

Ameaçando perigosamente um genuíno debate democrático e a livre escolha de candidatos a cargos eleitorais, o obnóxio uso do palavreado de enfrentamento por políticos competindo pelos votos dos irados e dos intolerantes, a todo custo. Dividindo o eleitorado em dois grupos: “nós”, pessoas normais, íntegros, silenciosos, cumpridores da lei, respeitosos e patriotas e “eles”, abnormais, delinquentes, barulhentos, imorais, preguiçosos, promíscuos, dependentes e perigosos. Todos nós desejamos manter uma visão própria do mundo e de questionar tudo aquilo que não entendemos ou concordamos, de uma maneiro ou de outra, o diálogo democrático deve ser preservado. Diferenças existem e têm que ser tratadas pacificamente com respeito ao direito alheio.

Políticos pregando intolerância, expressam uma sombra coletiva ao projetar suas próprias grandezas, superioridade moral, paranoia e politicas retaliatórias ou arbitrárias contra aqueles considerados ser parte do “eles” ou do “anormal”. Há, no entanto, algo insidioso sobre “normal”, uma palavra identificada na sua raiz do Latim com conformidade, especificamente como uma medida preexistente como a de um esquadro. O normal é uma maneira de transformar em maléfico, tudo aquilo fora da medida da visão do mundo de uma pessoa e ao mesmo tempo permitir ao acusador de sentir-se justo e equânime, no processo de justificar suas conclusões.

Líderes populistas ou demagogos sobrevivem por entender o magnetismo de projetar um inimigo que só eles podem derrotar. Emocionalmente, a intolerância pode ser uma fonte de gratificação, dando identidade ao seu proponente e certeza sobre quem é o inimigo. O impacto social da intolerância é tudo, menos gratificante. Quando intolerância alcança seu crescimento social, ninguém é seguro, nem mesmo aqueles que se consideram franqueados por ela. Intolerância é o vetor da paranoia, narcisismo, raiva e do medo, poção tóxica do sofrimento que não deixa nada do espirito humano intacto e transforma-se em uma ameaça presente e real ao Estado Democrático de Direito.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores