Nas recentes eleições municipais, o cenário político brasileiro expôs uma tendência intrigante: o fortalecimento do Centrão e dos partidos de direita, notavelmente o PSD e o PL, que consolidaram suas posições em prefeituras pelo país. Esse crescimento, porém, revela um fenômeno que vai além da simples expansão de poder partidário: o avanço das reeleições. Prefeitos que já ocupavam os cargos conseguiram renovar seus mandatos com um índice notável, algo que pode mudar a dinâmica das próximas disputas eleitorais.
A força da reeleição, no entanto, não se deve a um mero contentamento popular. Há um conjunto de fatores estratégicos, como o papel das emendas parlamentares, que se tornaram essenciais para as administrações locais. Deputados federais têm direcionado recursos volumosos para prefeituras aliadas, fortalecendo-as e, consequentemente, facilitando a continuidade no poder. Em regiões com poucos recursos, essas emendas se tornaram a chave para obras e melhorias visíveis, aumentando a atratividade eleitoral dos prefeitos que as administram.
Além disso, a polarização política, intensificada desde 2018, moldou o cenário das alianças locais. O alinhamento ideológico e partidário entre prefeitos e governos estaduais, assim como com o Congresso, tem dado a esses gestores um suporte estrutural e financeiro que, em muitos casos, desequilibra a balança em favor dos que já estão no poder.
Outro fator relevante é a abstenção elevada, que tende a beneficiar candidatos que contam com uma estrutura de campanha sólida e recursos para mobilizar eleitores. Em um país onde a política se vê cada vez mais polarizada, o eleitorado se encontra, muitas vezes, sem opções convincentes, o que contribui para a permanência dos incumbentes.
A questão, portanto, não é apenas sobre quem venceu mais prefeituras, mas como esses resultados moldam o futuro da política nacional. Com a crescente dependência das prefeituras de recursos oriundos das emendas, a continuidade no poder pode significar, em longo prazo, uma cristalização de grupos políticos. Isso levanta preocupações sobre a transparência e a equidade na distribuição desses recursos, especialmente em relação às emendas conhecidas como “orçamento secreto,” cuja falta de clareza gera desconfiança.
Por fim, se por um lado a reeleição oferece continuidade administrativa, garantindo o tempo necessário para implementar políticas públicas e consolidar projetos, por outro, pode limitar a alternância democrática e perpetuar estruturas de poder pouco responsivas ao interesse popular. A concentração de recursos e poder nas mãos dos gestores incumbentes pode criar uma dependência quase estrutural, onde prefeitos reeleitos mantêm o controle não apenas por méritos próprios, mas devido a vantagens financeiras oriundas de emendas parlamentares.
O desafio, então, é encontrar um equilíbrio que permita avanços estruturais sem sacrificar a renovação política, preservando o princípio da alternância no poder e fortalecendo a transparência na destinação dos recursos. Esse debate, sem dúvida, influenciará o caminho do Brasil rumo às próximas eleições, sendo essencial para a saúde da democracia brasileira.
Palmarí H. de Lucena