Sob a bandeira de renovar a fé cristã, a Nova Reforma Moderna, também conhecida como Nova Reforma Apostólica (NAR), avança em terreno além do espiritual, adentrando o delicado campo da política. Mais que um movimento religioso, trata-se de um projeto ideológico que propõe reconfigurar a sociedade segundo princípios teocráticos, erodindo a linha que separa Igreja e Estado e ameaçando valores democráticos conquistados ao longo de séculos.
Com raízes fincadas nos anos da Guerra Fria, quando missionários norte-americanos combatiam as teologias libertadoras na América Latina, a doutrina evoluiu de uma reação ao marxismo para uma plataforma conservadora que hoje desafia o pensamento progressista. Não se trata de um episódio isolado na história da religião, mas de uma continuidade estratégica que visa ocupar, de forma ordenada, postos-chave da sociedade. Sua retórica, marcada por teorias conspiratórias e a crença em uma constante guerra espiritual, alimenta a polarização e enfraquece o diálogo.
A NAR se distingue pelo método: não apenas busca atrair fiéis, mas também infiltrá-los em esferas como educação, negócios e governo. Propõe-se, assim, a instaurar uma ordem social homogênea, onde a diversidade é vista como inimiga. O Mandato dos Sete Montes, um de seus pilares, revela a dimensão ambiciosa do movimento ao exortar seus seguidores a dominar áreas essenciais da vida pública e cultural.
Contudo, não se pode ignorar a eficiência com que se adapta ao contexto atual. Oferecendo respostas simples a questões complexas, apresenta-se como um farol para grupos inseguros diante das mudanças sociais. Promete a restauração de uma suposta ordem divina, o que atrai aqueles que buscam estabilidade em tempos de incerteza. Ao observarmos sua atuação, percebemos que a Nova Reforma não é apenas um projeto religioso, mas uma empreitada política que ameaça o Estado laico. A história ensina que a instrumentalização da fé em nome do poder pode trazer retrocessos graves, como a perda de liberdades e o enfraquecimento das instituições democráticas.
Assim, diante desse cenário, cabe à sociedade manter-se vigilante. A fé, quando usada como ferramenta de controle, deixa de ser espaço de esperança e torna-se instrumento de opressão. Se queremos preservar os princípios democráticos e a diversidade que nos define, é essencial garantir que o sagrado permaneça no domínio íntimo, sem ser alçado ao trono do poder político.
Palmarí H. de Lucena