A Nova Direita Municipal

A Nova Direita Municipal

As eleições municipais de 2024 trouxeram à tona um cenário esperado pelas pesquisas: o fortalecimento da direita e do Centrão no comando das prefeituras brasileiras. Em comparação com 2020, o aumento no número de prefeituras sob o controle desses partidos é significativo, passando de 57% para 64% das cidades. Este resultado pode parecer contraditório à luz dos eventos políticos recentes, como a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais e a crise envolvendo a tentativa de golpe de 8 de janeiro, mas reflete uma nova dinâmica dentro da direita brasileira.

Embora Bolsonaro ainda seja uma figura de peso, há uma clara distinção entre a direita tradicional e a ala bolsonarista. Esse afastamento não representa uma ruptura, mas sim uma estratégia pragmática. Nas eleições municipais, questões concretas sobre a administração local prevaleceram sobre as pautas ideológicas que caracterizaram as eleições nacionais de 2018 e 2022.

Especialistas explicam que o sucesso da direita nessas eleições não se deve exclusivamente ao bolsonarismo. O crescimento de partidos como PSD e União Brasil, ambos com cargos no governo Lula, ilustra essa diversificação. O aumento de prefeituras sob o comando dessas legendas demonstra que a direita é ampla e abarca diferentes correntes. A vitória em prefeituras estratégicas e o surgimento de novas lideranças sugerem que, apesar da inelegibilidade de Bolsonaro, o campo político da direita se mantém vibrante e em expansão.

As eleições de 2024 também mostram que a identificação ideológica, seja de direita ou de esquerda, tem menor influência no pleito municipal. O eleitorado tende a escolher candidatos com base em questões práticas, relacionadas à gestão pública, como saúde, educação e infraestrutura. Essa realidade, somada à rejeição de parte do eleitorado ao bolsonarismo, mostra que a direita brasileira está se reconfigurando para os próximos desafios eleitorais.

O fortalecimento de figuras como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Pablo Marçal, por exemplo, sugere o surgimento de novas lideranças que podem disputar o protagonismo da direita em 2026. A fragmentação dentro desse campo político, no entanto, pode ser uma faca de dois gumes. Se, por um lado, amplia o espectro de atuação da direita, por outro, corre o risco de dividir o eleitorado e enfraquecer a coesão necessária para disputas futuras, como as eleições nacionais.

O resultado das prefeituras em 2024 indica que, enquanto Bolsonaro mantém sua relevância como líder de uma parcela da direita, novas forças estão se consolidando. Essa divisão interna pode definir o futuro da direita no Brasil e, possivelmente, impactar as eleições de 2026. Resta saber se a direita será capaz de manter sua unidade ou se a fragmentação pode levar a disputas internas que prejudiquem seu desempenho nas próximas eleições.

Palmarí H. de Lucena

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