A Nau Perdida e a Arte Naval Esquecida

Photo by Palmarí H. de Lucena
A Nau Perdida e a Arte Naval Esquecida

No silêncio das pedras antigas, onde o tempo deposita seus segredos, um desenho gravado na pedra calcária da parede externa da Igreja de Nossa Senhora da Guia, em Lucena, Paraíba, ressurge como um enigma do passado. Trata-se de uma gravura naval, esculpida em um templo do século XVIII, que intriga historiadores e arqueólogos. A imagem, eternizada na rocha, parece representar um tipo de nau cuja presença nas Américas ainda não era plenamente confirmada pelos registros históricos.

Seria essa a evidência material de uma embarcação que atravessou o Atlântico sem deixar vestígios nos anais da História? Especialistas debatem sua origem, pois a precisão dos traços e os detalhes estruturais sugerem um conhecimento técnico que apenas marinheiros experientes possuiriam. Se fosse um ato de vandalismo moderno, a gravura não apresentaria a coerência estilística e a perspectiva características de uma época remota. Pelo contrário, tudo indica que se trata de um testemunho histórico — um fragmento do passado marítimo que se fixou na pedra antes de ser engolido pelo tempo.

O contexto da descoberta reforça essa hipótese. Durante a Era das Grandes Navegações, era comum que marinheiros portugueses e espanhóis deixassem registros de suas passagens em fortalezas, igrejas e outros pontos estratégicos. Esses grafites navais, muitas vezes ignorados por olhos desatentos, são vestígios silenciosos de um mundo onde os oceanos ainda escondiam mistérios insondáveis.

A nau gravada na igreja talvez seja um desses registros esquecidos. Quem a desenhou? Um marinheiro nostálgico, que buscava imortalizar a silhueta do navio que o trouxe a terras distantes? Ou um cartógrafo amador, testemunha de uma embarcação cujos rastros se perderam nos arquivos do tempo?

Seja como for, a imagem permanece. E, como um farol apagado à espera de ser redescoberto, ela nos convida a revisitar as rotas, os perigos e os sonhos dos navegadores que cruzaram os mares em busca do desconhecido.

Palmarí H de Lucena

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