Nairóbi não era um lugar predisposto a excessos climatológicos. Chamada a “cidade verde no sol”, temperatura amena quase todo o ano. Novembro e dezembro as únicas exceções, chuva com calor. Decidimos que era tempo de dar uma saída em direção às ilhas Seychelles no Oceano Índico.
Sobrevoávamos contemplando a imensidão turquesa do Oceano Índico. Perdidos no espaço a caminho do paraíso. Enorme mancha escura na superfície do oceano, aproximando-se rapidamente da ilha de Praslin, nosso destino. “Maré vermelha”, fenômeno natural causado pelo crescimento excessivo de microalgas presentes no plâncton marinho, explicou didaticamente o piloto. Ameaçando mais de 1.000 espécies de peixes, caranguejos e uma das maiores colônias de aves marinhas do mundo.
Areia branca. Mar tranquilo, nada de profundidade inesperada ou correntes traiçoeiras. A praia estava coberta por uma verdadeira colcha de retalhos de seios desnudos. Olhos alertas dos trabalhadores acompanhavam todos os movimentos dos banhistas, uma atenção generosa sem preconceitos ou desconfiança. Sentinelas no perímetro de um paraíso de seios europeus, atentos á crescente mancha vermelha que se avizinhava da praia.
Anoiteceu. Ouvimos acordes de sanfona misturados com o som estridente de uma rabeca. Tocavam um ritmo chamado de Sega. Pares dançavam em quadrados, coreografia derivada da “quadrille” francesa. Atraídos pela música, caminhamos até um tablado rústico, em frente do hotel. Deparamo-nos com uma multitude de caranguejos, ao abrirmos a porta do bangalô. Impossível de avançar um metro, sem pisá-los ou ser ferido pelas patas hostis que exibiam. Removendo os crustáceos do caminho, três vigias nos acompanharam.
Manhã seguinte. Nenhum vestígio dos caranguejos. Haviam voltado para seus buracos profundos, longe dos banhistas, que agora reocupavam a areia branca ao longo da orla. Retornariam no final do dia, um verdadeiro banquete de frutas e restos de comida os esperava. As noites seriam mais tranquilas também, não estavam servindo caranguejo no jantar, devido à advertência de poluição da maré vermelha.
Decidimos visitar o Vale de Maio, no interior da ilha. Lugar considerado como uma réplica do Jardim do Paraíso, tal como descrito no Gênesis. Festival de cores e fragrâncias. Canela misturada com cheiro de mar. Som confortante de águas cristalinas. Esquecemo-nos da maré vermelha, por uma instante apenas, ainda estávamos em um paraíso…