A lei e dura, mas não cura

Demagogia, indiferença e corrupção conspirando contra investimentos massivos em programas de prevenção e tratamento. População demandando uma dramática redução em todas as atividades antissociais e criminalidade associadas com o tráfico e uso de drogas ilegais. Perplexa diante do aumento do número de encarcerados, sem reduções significativas nas causas e efeitos do problema. Endurecemos as leis sem acrescentar recursos orçamentários para gastos penitenciários e a disponibilização de serviços complementares de tratamento e a reabilitação vocacional de apenados durante e pós-cumprimento de suas sentenças.

Argumentos similares àqueles propostos por políticos e mídia norte-americana no século passado começam a ressonar na nossa sociedade e no Congresso. Pronunciamentos em audiência pública e na imprensa demandam maior rigidez na culminação legal de penas para crimes cometidos sob a influência de drogas, principalmente crack, e tratamento compulsório para a reabilitação do dependente.

Crack tornou-se o bicho-papão da opinião pública, cansada de insegurança e rebaixamento da qualidade de vida. Veias abertas da miséria humana ofendendo nosso sentimento de progresso e bem-estar material. Precisamos nos tornar mais humanos e criativos para enfrentar a expansão e os efeitos do crack na nossa juventude. Podemos até argumentar que se a droga fosse usada pelas classes média ou alta não estaríamos dizendo que é impossível tratá-la como qualquer doença.

As complexidades do tratamento de dependência química ao crack são mais influenciadas pelo contexto e circunstância social do usuário do que pelareação bioquímica. Essa descoberta nos dá um raio de esperança para situações de desespero destruindo famílias e comunidades. Narrativas populistas demandando medidas draconianas sobre o problema aumentam o capital político dos proponentes, atraindo a atenção da mídia e das redes sociais sem contribuir positivamente para a sua solução….

Palmarí H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores