A intrínseca relação entre futebol e política

A intrínseca relação entre futebol e política

Desde a popularização do futebol nos anos 1930, regimes nacionalistas e fascistas perceberam o potencial do esporte como ferramenta de propaganda. Seleções nacionais e clubes foram transformados em vitrines para promover ideologias, especialmente durante períodos ditatoriais. Uniformes e ações em campo tornaram-se veículos de manifestações políticas.

O futebol, como criação humana, reflete o contexto político e social em que está inserido. Comemorações, camisas, bandeiras e ações dentro de campo são constantemente influenciadas pela política. Exemplos como a “Democracia Corinthiana” mostram o potencial positivo do esporte na defesa da democracia, enquanto outros casos revelam sua utilização para fortalecer regimes autoritários.

Torcer é, e sempre será, um ato político. Governos e líderes ideológicos há muito perceberam isso, utilizando o futebol como uma poderosa ferramenta de influência. Como dizia Nelson Rodrigues, “A seleção é a pátria de chuteiras”.

Ao longo da história, futebol e política têm mantido uma relação intrinsecamente dupla. De um lado, o futebol tem sido explorado e instrumentalizado por governos, estados e regimes ditatoriais como uma ferramenta para promover seus interesses políticos. Do outro, o esporte atua como um veículo para reivindicações sociais, trabalhistas e políticas, servindo de plataforma para expressar ideias e buscar mudanças. Essa relação é, portanto, indissociável e dual, envolvendo aspectos tanto de cooperação quanto de conflito.

“O estádio, as arquibancadas, atuam como amplificadores do contexto social. O futebol é uma metáfora social. Através da história dos clubes ou rivalidades, podemos explicar a história das cidades, ou parte dela. Em grande medida, isto é possível devido à dimensão social que o futebol alcançou, dada a sua popularidade e ascensão na nossa sociedade”, afirma o historiador Carles Viñas.

Analisar a violência nos estádios de futebol exige uma contextualização histórica detalhada, especialmente no contexto europeu. Eventos históricos diversos tiveram um impacto profundo nas dinâmicas sociais e políticas da região, provocando a polarização de diferentes grupos na sociedade. Essas divisões sociais frequentemente se refletiram nas arquibancadas, exacerbando rivalidades entre clubes e países.

Na Espanha, por exemplo, existe mais de uma dezena de “coletivos ultras” que declaram abertamente seu alinhamento com ideologias de extrema-direita. Esses grupos variam entre tradicionalistas, ultraconservadores, ultranacionalistas, franquistas, neofascistas, neonazistas, regionalistas e centralistas. Embora diferentes em alguns aspectos, eles são unidos pelo ódio a imigrantes, racismo explícito, islamofobia, xenofobia e paranoia anti-modernidade.

Ao associar o tema ao Brasil, inevitavelmente lembramos dos recentes ataques racistas contra o jogador brasileiro Vinícius Júnior em Barcelona, perpetrados por técnicos, torcedores e jogadores adversários. Esses episódios destacam como discursos de ódio se manifestam nos estádios de futebol, refletindo problemas sociais mais amplos. Esses casos evidenciam que, assim como na Europa, o futebol no Brasil também é um microcosmo das tensões sociais e políticas. A violência e o racismo nos estádios são manifestações de questões estruturais que permeiam a sociedade como um todo.

Futebol e política estão intrinsecamente ligados, seja como instrumentos de poder ou como plataformas de protesto e mudança. O esporte reflete e amplifica as tensões e dinâmicas sociais, funcionando como um espelho das sociedades em que está inserido. Em um mundo onde a política está em constante evolução, o futebol continuará a ser um campo de batalha simbólico, onde as lutas sociais e políticas são travadas com a mesma paixão vista dentro de campo.

Palmarí H. de Lucena – Julho 2024

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