Desde o início de seu mandato, Donald Trump não apenas pressionou o Federal Reserve (Fed) a reduzir as taxas de juros, como também manifestou um desejo preocupante de exercer controle direto sobre a política monetária dos Estados Unidos. Essa postura vai além de uma simples quebra de protocolo; representa uma ameaça concreta à independência do banco central, que é essencial para o equilíbrio econômico entre o crescimento do emprego e o controle da inflação.
Recentemente, Trump foi enfático em uma coletiva de imprensa: se reeleito, pretende intensificar sua intervenção nas decisões do Fed. Ele justifica essa postura com base em sua experiência nos negócios e em uma confiança quase cega em sua própria intuição. Contudo, essa intenção de influenciar diretamente o Fed levanta sérias preocupações sobre o risco de politização de decisões que deveriam ser baseadas em análises econômicas rigorosas e imparciais.
Jerome Powell, atual presidente do Fed e indicado pelo próprio Trump em 2017, tornou-se alvo frequente das críticas do ex-presidente. Trump acusou repetidamente Powell de errar na condução da política monetária, afirmando que o Fed age de forma tardia ou precipitada ao ajustar as taxas de juros. No entanto, essa crítica ignora a complexidade das decisões monetárias e a dificuldade inerente de acertar o momento exato em um cenário econômico sempre em mudança.
Recentemente, Trump criticou Powell por não ter reduzido as taxas de juros durante a reunião do Fed em 31 de julho, especialmente após a divulgação de dados de emprego decepcionantes, que mostraram uma elevação da taxa de desemprego para 4,3%. A reação negativa do mercado foi imediata, temendo que o Fed tenha esperado demais para agir. No entanto, é crucial lembrar que a política monetária opera com defasagens, e decisões precipitadas podem acarretar consequências negativas no longo prazo.
Apesar de suas constantes críticas, Trump elogiou Powell por reduzir as taxas a zero no início da pandemia, em março de 2020, numa tentativa desesperada de evitar um colapso econômico. Essa ambivalência nas atitudes de Trump revela uma estratégia mais política do que técnica, onde as críticas ao Fed parecem servir mais como ferramentas de campanha do que como avaliações baseadas em princípios econômicos sólidos.
A independência do Fed foi concebida para proteger o banco central de pressões políticas, garantindo que suas decisões sejam tomadas com base em objetivos econômicos de longo prazo, e não em interesses políticos imediatos. Trump, no entanto, parece disposto a abandonar essa tradição em favor de uma abordagem mais intervencionista, o que poderia desestabilizar a economia e minar a confiança no sistema financeiro.
Embora Trump tenha declarado que, se reeleito, não demitiria Powell a menos que fosse absolutamente necessário, sua promessa de não reconduzir Powell ao cargo em 2026 enfraquece essa garantia. Isso sugere que a autonomia do Fed pode continuar sob ataque em um eventual segundo mandato de Trump.
A perspectiva de uma presidência que busca controlar diretamente a política monetária deve ser uma preocupação para todos que valorizam a estabilidade econômica e a proteção contra a inflação descontrolada. A independência do Fed não é uma mera formalidade; é uma necessidade crucial para garantir que as políticas econômicas sejam guiadas pela razão e não por interesses políticos de curto prazo.
Palmarí H. de Lucena