Documento preliminar de uma assembleia de bispos convocada pelo Papa Francisco promete converter-se no catalisador de um debate global sobre a aceitação de pessoas divorciadas ou vivendo em coabitação não matrimonial, homossexuais e famílias não-tradicionais. Precedido por declarações pontificais nos últimos dezoito meses, os bispos recomendaram maior discernimento, compreensão e compaixão com famílias e pessoas marginalizadas por atitudes ou práticas que as condenavam a uma existência no pecado ou sob sanções eclesiásticas.
Ensinamentos da Igreja sobre o sacramento do matrimônio reafirmados e preservados, o documento orienta religiosos a reconhecer aspectos positivos da união civil e coabitação, sem a bênção de um casamento religioso. Afirma também que homossexuais têm dádivas e qualidades para oferecer à comunidade cristã e que alguns casais homoafetivos se apoiam mutualmente à ponto de sacrifício. O tema central é o respeito à integridade da pessoa humana independente de sua orientação sexual.
Sacramento da comunhão para católicos divorciados ou casados sem obter anulação do primeiro casamento pela Igreja, permanece um dos pontos mais contenciosos do debate. Existe porém o compromisso de tratar divorciados, casados ou solteiros, com respeito e o devido cuidado de não usar linguagem ou promover comportamentos que os façam sentir-se descriminados. Muitas paróquias já promovem encontros de casais com Cristo, mesmo para casais sem casamento religioso , a exemplo da Igreja de São Luiz na Avenida Paulista em São Paulo. Mudanças sutis, mas promissoras.
Posições adotadas pelos bispos, refletem novos rumos para a Igreja no papado do Papa Francisco. Em alguns países, paróquias estão abrindo suas portas à casais homoafetivos, baseadas em uma política de “não pergunte, não diga”. Párocos, no entretanto, ainda são removidos de corais, de magistério em escolas paroquiais e crianças têm recusadas as suas matrículas, por serem considerados problemáticos, as vezes perigosos.
Começamos a ter um efeito salutar e a Igreja tornando-se mais aberta à diversidade, embora considerada devagar demais e superficial por alguns grupos de pressão. Independente de reservas e críticas, a mudança é real. A tendência é transformar a Igreja em um grande tenda abrigando a todos, sem condicionalidades ou exclusão. Cinquenta anos atrás, o papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II com objetivo de modernizar a Igreja e atrair cristãos afastados da religião. A promessa dos ensinamentos de Papa Francisco é um bom augúrio para novas mudanças, tornando a Igreja mais inclusiva, menos dogmática e eventualmente mais receptiva para discutir à função da mulher no clero, entre outros tópicas.
Palmarí H. de Lucena, União Brasileira de Escritores