Transformamos o Estádio do Maracanã em cenário de um megaespectáculo de Bubsby Berklay, criador do mundo colorido de balés aquáticos cheio de luzes, lantejoulas, figuras simétricas e muitas louras. Oásis de ladrilhos dourados no deserto da Grande Depressão salvando da falência a Warner Brothers, catapultando a grande nadadora Esther Williams como a estrela do cinema tecnicolor. Outro nadador, JohnnyWeissmuller com cinco medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928, consagrado pelo cinema como Tarzan, o Rei da Selva. Legado da mestria esportiva, de interesses econômicos e da narrativa da máquina de sonhos hollywoodiana fazendo o mundo esquecer das vicissitudes do momento e das tragédias de uma humanidade carente de fair-play e respeito ao próximo. Como diria a MGM, that’s entertainment!
Rio 2016 não foi diferente. Começando com uma loura teutônica desfilando em passos precisos homenageando outra loura, a eterna e menos glamorosa garota de Ipanema. Tivemos momentos de sanidade também mostrando as tristezas e alegrias da nossa história. Esquecendo, no entretanto, que somos a pátria de Zumbi dos Palmares, Castro Alves, Machado de Assis, Villa-Lobos, Cartola, Jorge Amado, Bidú Sayão e do poeta que escreveu os lindos versos para a musa dos frequentadores do Bar Veloso.
Exageramos no padrão Brasil for export: estereótipos do hedonismo brasileiro sensualizando a negritude da mulher brasileira, clones de Carmen Miranda e Zé Carioca, araras azuis completando o espetáculo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Passamos tres semanas desfrutando momentos de glória temporária, aninhados em uma capsula cheia de ilusões. Como ressaltou um cronista: viramos uma pedra, o resto do mundo transformou-se em vidro. Tudo acabou na segunda-feira…
Em poucos dias saberemos quem será o capitão da nossa nave, quiçá mudaremos a vidraça frágil de um país triste, um povo alegre liderado por políticos e partidos corruptos, que temem a voz do povo. Diagnóstico preciso das cerimônias dos Jogos Olímpicos: sobrevivemos mesmo sendo vitimas de graves sequelas de acefalia política.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores