A espera do fim da pandemia

Photo by Palmari de Lucena
A espera do fim da pandemia

É difícil lembrar o dia quando a pandemia começou. Para alguns, a ameaça sanitária só se transformou em algo real quando a própria pessoa ou alguém de sua intimidade contraiu a covid-19. Milhares de pessoas sofreram perdas de entes queridos, fechamento de negócios, interrupção de estudos ou perda de empregos, transformando a pandemia em algo tragicamente tangível. Ficamos à deriva por meses, alguns deles desastrosos, em vez de vive-los plenamente.

Embora tenhamos esperança de uma conclusão definitiva da pandemia, é bem possível que nenhum evento singular ou dia seja marcado para celebramos. “The End” poderá ser, na verdade, uma série de pequenos eventos ou retorno incremental a uma nova realidade, de pessoas transformadas pela pandemia. Situação que ainda pode ser mais traiçoeira de navegar do que somos capazes, algo que não podemos antecipar ou nos prepararmos.

Segundo a Dra. Ellen Braaten, professora de psicologia da Escola de Medicina de Harvard, para muitas pessoas o último ano foi vivido como um curso de psicologia sobre os cinco estágios do luto, negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação, estágio que caracteriza o processo de aquiescer a realidade de uma situação de caráter permanente, como a morte ou mesmo o divórcio. A pandemia é algo que temos de aceitar duas vezes, seu começo e eventualmente sua conclusão.

Complicando mais ainda a situação é o fato de que a aceitação da pandemia não é universal. Aceitação pode ser inconsistente quando entendemos seus efeitos por vezes e as vezes nos mantemos em descrença. Continuando a tendência positiva com aumento de imunização e redução de hospitalizações, em breve necessitaremos um cenário diferente de aceitação, um que possa significar o fim da pandemia. Para alguns, aceitar que a pandemia terminou pode ser mais fácil do que aceitar que ela estava ocorrendo.

Podemos nos surpreender em um futuro não tão distante, fazendo algo que era normal em algum momento das nossas vidas. Viajar sem usar máscara, despedir-se de filhos na entrada da escola ou dançar festivamente em um casamento ou aniversário, serão aqueles momentos quando aceitarmos a realidade de que a pandemia terminou. Desfrutaremos a ocasião com um grande sentimento de alívio, que poderá ser menos rejubilante e mais complicado do que antecipávamos. E possivelmente assim será …

Palmarí H. de Lucena, membro da Uniao Brasileira de Escritores

Comentários

  • Rosangela disse:

    Caro amigo, esse dia chegará… Quantas saudades…, mas não breve!!
    Ja começo a me adaptar aos novos hábitos exigidos pelo momento, e de repente me pego pensando: e se não cumprir essas exigências? Pode não ter volta.
    Rosangela

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