A epidemia oculta da solidão

Photo by Palmari H. de Lucena
A epidemia oculta da solidão

A solidão é um estado emocional que se caracteriza por sentir-se sozinho e isolado, mesmo quando se está cercado por outras pessoas. Pesquisadores estão descobrindo que ela causa danos muito maiores do que se pensava anteriormente, como derrames, doenças cardíacas, demência, inflamação e suicídio. A solidão pode quebrar o coração tanto literalmente quanto figurativamente.

De acordo com o cirurgião geral dos EUA, Dr. Vivek Murthy, a solidão é tão mortal quanto fumar 15 cigarros por dia e mais letal do que consumir seis bebidas alcoólicas por dia. Ela é ainda mais perigosa para a saúde do que a obesidade. Infelizmente, temos nos tornado cada vez mais solitários. O Brasil é a nação onde as pessoas mais sentem solidão, de acordo com uma pesquisa do Instituto Ipsos. O levantamento de 2021 ouviu 23 mil pessoas de 28 países e mostrou que 50% dos brasileiros se sentem sozinhos, enquanto a média global é de 33%.

Felizmente, existem soluções e abordagens que podem construir conexões e nos unir. O Reino Unido é pioneiro nesses esforços, tendo estabelecido o cargo de ministro da solidão em 2018. Esse ministro supervisiona parcerias público-privadas que reúnem milhões de pessoas por meio de programas como caminhadas na natureza, oficinas de composição de músicas e mutirões de limpeza comunitária.

Embora seja uma necessidade menos óbvia do que um ministro da defesa ou um ministro das relações exteriores, outros países estão seguindo o modelo inglês, por exemplo, o Japão também nomeou um ministro da solidão, e a Suécia possui um ministro dos assuntos sociais que abordou a questão de forma agressiva. Além disso, tem havido pedidos na Austrália e em outros países por um cargo semelhante.

Em recente matéria no New York Times, o colunista Nicholas Kristof argumentou que “[…] A Grande Depressão foi devastadora economicamente, no entanto a mortalidade na época não aumentou, mas na verdade diminuiu. Por que não tivemos mais mortes por desespero na década de 1930? Acredito que, em parte, isso se deve ao fato de que nos anos 30 havia instituições comunitárias – igrejas, clubes masculinos, associações femininas, clubes de bridge, ligas de boliche, famílias extensas – que amenizavam a dor e a humilhação do desemprego e da angústia econômica, e em alguns casos esses grupos até mesmo se tornaram mais ativos durante os tempos de dificuldade.”

Uma estratégia para lidar com a solidão, deve começar com a construção da infraestrutura que possibilita a conexão social, infraestrutura física, como parques e bibliotecas, além de infraestrutura social para unir voluntários ou entusiastas com interesses semelhantes. Soluções para a solidão são assim – pequenos empurrões para nos encorajar a nos misturarmos da maneira que evoluímos. Elas são tão fáceis, e a solidão parece tão incapacitante, que deveríamos estar fazendo mais.

A pandemia e o extremismo político causaram profundas feridas, resultando no acirramento da solidão humana, como trituradora de sentimentos de solidariedade, coesão familiar e espírito de pertencimento a uma comunidade ou grupo cívico. Hoje, somos um povo atomizado e polarizado, viciados e angustiados, somos uma multidão solitária. Evidências avassaladoras sugerem que, em prol da nossa felicidade e bem-estar, simplesmente precisamos uns dos outros, de voltarmos a sermos simplesmente cidadãos brasileiros.

Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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