A empresa de demolição de Javier Milei

A empresa de demolição de Javier Milei

Prometendo reformas drásticas, o recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, um autodeclarado “anarcocapitalista”, comprometeu-se a remover os controles cambiais e as restrições de importação. Analistas acreditam que essas medidas colocariam ainda mais pressão sobre o peso, potencialmente aproximando seu valor aos níveis observados nos mercados informais, que já caíram 875% em relação ao dólar americano nos últimos cinco anos. O novo mandatário também precisará lidar com questões como a alta inflação, escassez de reservas de moeda estrangeira e a possibilidade de outra recessão.

A dolarização prometida durante a campanha é vista por Milei e seus apoiadores como a cura para o problema da hiperinflação do país, um passo que países pequenos como Timor Leste, El Salvador e Panamá já deram, mas nenhum do tamanho da Argentina, a terceira maior economia da América Latina depois do Brasil e do México. Na prática, a medida significa que a Argentina abandonaria o peso e adotaria o dólar americano como sua moeda, efetivamente retirando o controle da política monetária do banco central do país e entregando-o ao Federal Reserve dos Estados Unidos.

Analistas concordam que a dolarização ajudaria a controlar a inflação, embora dúvidas prevaleçam se o novo governo terá apoio político ou popular suficiente para implementar essa agenda. Avaliam que algumas de suas propostas mais radicais, além da dolarização, talvez não se concretizem, dada a falta de apoio no Congresso Nacional e entre segmentos da população. Embora alguns especialistas vejam a medida como infalível para controlar a inflação, ela não seria uma solução para os problemas fiscais do país.

Além de dificuldades políticas e de governabilidade, o estado frágil da economia argentina impede a dolarização. Conforme as coisas estão atualmente, a taxa de conversão seria muito desfavorável para o peso, enfraquecendo drasticamente a moeda e provavelmente levando a um aumento da pobreza, que as estatísticas do governo já colocam em torno de 40%. Para que a dolarização faça sentido do ponto de vista social e econômico, seria necessário um mínimo de reservas internacionais, mas as reservas cambiais do governo estão mais de US$ 10 bilhões abaixo do necessário.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) efetivamente impediu a Argentina de acessar os mercados internacionais enquanto o país paga suas dívidas, estimada em cerca de US$ 44 bilhões após um histórico resgate em 2018. O Banco Mundial espera que a economia argentina contraia 2,5% em 2023, em parte devido a uma seca devastadora que se estima custar US$ 20 bilhões em exportações agrícolas perdidas, fatores que podem colocar restrições severas nas mudanças mais radicais propostas por Milei, como parte do seu programa anárquico de governo. Como disse o ex-governador Mario Cuomo de Nova York: “discurso de campanha é poesia, governar é prosa”.

Palmarí H de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores

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