“O primeiro direito do homem é de não passar fome”, a única frase proferida por Josué de Castro quando sofreu um incontrolável acesso de tosse e não pode fazer seu discurso na cerimonia de entrega do prêmio, que lhe fora concedido pelo Conselho Mundial da Paz, no ano de 1954. Denunciado pelo grande pensador nos anos 1950/1960, o problema da fome permanece atual: não é de falta de alimentos, eles existem.
Progredimos muito desse então, uma prova do dinamismo da agricultura brasileira está nos bons resultados do agronegócio em 2020, quando ultrapassaram os U$$ 100 bilhões em exportações, montante cinco vezes maior do que o registrado no início deste século, por outro lado, retrocedemos ainda mais no combate da fome no Brasil, agravada pela inércia do Governo de tratar dos efeitos sociais da pandemia da covid-19, com eficiência e equanimidade.
Matéria recente no jornal El Pais, relata que unidades de saúde de Brasília identificaram aumento de busca por pessoas com sintomas que acreditavam ser da doença covid-19, mas que, na verdade, estão famintas. Mais um impacto da pandemia, resultado do empobrecimento da população. Em 2020, registrou-se um aumento dramático de pessoas com insegurança alimentar grave ou moderada, 27,7% da população está neste grupo. Pesquisa dos cientistas do grupo “Alimentos para a Justiça”, indica que cerca de 58 milhões de brasileiros correm o risco de deixar de comer por não terem dinheiro.
Pessoas com alto índice de vulnerabilidade social, sem meios de botar comida na mesa, vivem num estado quase constante de ansiedade e pânico. Tudo milita contra a sobrevivência e dignidade de suas existências. Se são atendidos por profissionais de saúde, muitas vezes não têm dinheiro para comprar remédios; não podem receber doações de alimentos porque não têm endereços fixos ou cozinha-los porque não tem como adquirir um garrafão de gás. Enfim, tudo e todas situações parecem conspirar para mantê-los nas garras da fome.
Foi a partir de dois livros de Josué de Castro, Geografia da Fome, de 1946 e Geopolítica da Fome, de 1951, que o tema da fome ganhou repercussão nacional e internacional. O raciocínio que consolidara no Brasil, a partir da obra de 1946, ele expandia para o mundo: a causa da fome não se devia a caprichos da natureza, mas a — vamos chamar assim — caprichos da política. Uma frase do pensador brasileiro, “[…] a metade da população não come, e a outra não dorme, com medo da que não come […] ”, equaciona o dilema que ainda vivemos no Brasil e no Mundo. Chegou a hora do povo demandar politicas públicas de alivio a pobreza e a fome afetando a maioria da população do País.
Palmarí H. de Lucena, membro da União Brasileira de Escritores
Excelente, sua abordagem sobre o problema da Fome no Brasil.
Tal como a questão de concentração da renda, a concentração de terra em poucas mãos, responde em grande escala pelo drama da fome. O agronegócio representa uma grande fonte de divisas no campo das exportações. Entretanto, a produção de alimentos sempre foi tarefa do pequeno ou médio produtor. Ignorado, desassistido ou desestimulado, torna-se migrante e compõe nas periferias as paisagens de favelas, onde a fome é uma constante e um estímulo à marginalidade.